O tornar-se mãe sempre foi uma escolha, desde década de 60, quando iniciou os direitos sobre métodos contraceptivos, com a liberação do uso de anticoncepcional e DIU (Dispositivo Intrauterino) no Brasil. (Pedro,2003)
As mulheres foram criadas para tornarem-se mães?
A menina observa o cuidar de uma casa, vê a mãe e seu relacionamento com o pai, brinca de bonecas, por meio desta, permite-se, representar sua elaboração sobre o que é ser uma mulher e exercer a função materna. No brincar com a boneca, a menina fantasia sobre seu poder feminino e sua onipotência sobre a capacidade de “dar à luz”. (Labaki, 2007)
Ser mãe não significa atualmente ter que engravidar? Ser gestante é poder carregar seu filho, aprender a idealizar o bebê e ao nascer lidar como bebê real, conforme refere-se Winnicott (2000).
A mãe escolhe como será seu processo na maternidade, pois há opções como gestação por fecundação consensual pelo casal, os meios de fertilizações e a adoção. Essas escolhas implicam na relação mãe-bebê, que significa a constituição psíquica da mulher com o bebê imaginário, que se depara com o bebê real, o nascido, diferente de seu imaginário. A mãe, após o parto, sofre a frustração ao ver o filho real. Ela busca verificar a crianças disposta a sua frente, olhando em seus olhos, contando seus dedinhos, vendo e acariciando seu corpinho, neste momento, inicia psiquicamente o processo de elaboração e a identificação com o seu bebê. (Winnicott, 2000; Solis-Ponton, 2004)
A mulher percebe sua escolha ao olhar nos olhos de seu filho e identificar-se com ele, neste momento “nasce a mãe”. Mas o que acontece com as mães adotantes? A concepção do bebê passa por um momento de ressignificação, ele é apresentado a mãe, ela por sua vez, simbolicamente passou por um processo de gestação “fantasiosa” cercada de insegurança e angústia, com luto da gestação real não vivida, mas ao receber seu filho, há a explosão do “amor de mãe”. “Nasce a mãe”. (Winnicott, 2000; Solis-Ponton,2004, Labaki,2007)
Atualmente, há uma crescente de “mãe de pets”, será que podemos considerar mãe? Conforme o conceito de Winnicott (2000) sobre tornar-se mãe, a mulher, desde menina, cria o objeto idealizado, ao gestar em seu processo narcísico, tanto no contexto realístico quanto simbólico, transforma o objeto idealizado por meio da relação do objetivamente percebido, o “pet” para subjetivamente concebido “filho pet”. Assim, há a capacidade de dizer que “mães de pets” sente a preocupação com seus “filhos de patas” e buscam realizar sua maternidade.
As mães se apresentam de diferentes formas, modos e tipos de filhos, elas tornam-se, e, não importa como foi o processo pelo qual foi a escolha de ser mãe, desde mãe de “filho único”, mãe de inúmeros filhos, mãe de “filhos adotados”, mãe “solo”, mãe de filhos humanos e filhos de patas” e mãe de “pets”. Sempre há uma escolha e a você, mãe: Feliz dia das mães, para todos os tipos de mães!
Referências bibliográficas:
Labaki, MEP. Ter filhos é o mesmo que ser mãe? Jornal de Psicanálise, São Paulo, 40(72): 75-87, jun. 2007.
PEDRO, J M. A experiência com contraceptivos no Brasil: uma questão de geração. Rev. Bras. Hist., São Paulo, v. 23, n° 45, p. 239-260, Jul 2003. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882003000100010>. Acesso em: 21/04/2021
Winnicott, D. W. (2000). Preocupação materna primária. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise: Obras escolhidas. pp. 399–405. Rio de janeiro: Imago; 2000.
Solis-Ponton, L. A construção da parentalidade. In: Silva, MCP. Ser pai, ser mãe: um desafio para o terceiro milênio. pp29-40. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004
Psicóloga, mestre em ciência da saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Especialista em Psicologia hospitalar e em psicologia Clínica Winnicottiana. Atende crianças, adolescente e adultos. Atualmente esta fazendo somente atendimentos on-line pelo Espaço Camila Ferreira.