Análise do sujeito adolescente: tempo de ressignificação e afastamento dos pais

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Ao começar o atendimento com crianças e adolescentes na clínica, num primeiro momento, o profissional recebe os pais e/ou responsáveis, já que o paciente é menor de idade. Assim, o analista costuma observar as expectativas que os adultos despejam em cima dos filhos. Os pais relatam sobre as atitudes dos filhos que não concordam e que esperam que o psicoterapeuta faça o que for possível pra consertar suas crianças, como se nós, psicólogos, fossemos detentores dum poder mágico.

Enquanto adultos, há a prepotência de acreditar que se sabe muito ou tudo da vida. É muito claro que, com mais vivência (especialmente do “quebrar a cara”), vem mais bagagem pra articular sobre as coisas da vida; porém, é preciso ter a humildade em confessar que ainda se erra, e que, enquanto vivermos, os erros existirão. Contudo, é natural e esperado que se aprenda a partir disso, e as atitudes passem a ser diferentes.

Além da dificuldade de compreender que nós adultos não somos seres livres de erros, e muito menos imunes aos erros dos mais jovens, parece que às vezes esquecemos da delicadeza que é ser adolescente, com todo o peso de enfrentar a transição da infância pra vida adulta. Essa tão temida fase é encarada, normalmente, como um período “rebelde” do ser humano.

Compreende-se por “rebeldia” as atitudes de um sujeito que foge do que é esperado socialmente. E a causa dessa dita rebeldia é fruto da confusão daquilo que o adolescente pensa desejar: ele não sabe ao certo se quer ou não romper com os pais, fator de sua angústia, que tem como solução geralmente a “escolha” de chamar a atenção dos mais velhos de forma desajustada. E, em contrapartida, o efeito disso nos adultos é a frustração em relação àquilo que eles esperam de seus filhos. Quebram-se as expectativas e há sofrimento, pois o ideal que os pais esperavam não foi correspondido.

Conclui-se que a adolescência explana aos pais a necessidade do sujeito (adolescente) de fazer cisão em sua relação. Com o afastamento que se cria, o comportamento dos filhos demonstra tentativas de romper com qualquer tipo de referência primária (sendo a família a “primeira sociedade” em que estamos inseridos) e expõe aos pais suas impotências e possíveis falhas com os filhos (Alberti, 2004 como citado em Ferrao & Poli, 2014).

O adolescente encara, além dessa “impotência” imposta aos pais, também a quebra de encanto que tinha por eles. Antes, os adultos eram tidos como peças importantes pro sujeito dar conta de si enquanto ser social. A partir da mudança da adolescência, com o corte do “cordão umbilical”, passa a ser necessário a elaboração e ressignificação de seu novo local na sociedade.

Referência:
Ferrao, V. S., & Poli, M. C. (2014). Adolescência como tempo do sujeito na psicanálise [Versão eletrônica], Adolescência & Saúde, 11(2), 48-55.

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