O descontrole com as compras é ao mesmo tempo um problema antigo e cada vez mais moderno, pois desde a antiga Grécia o ato de comprar se faz presente na sociedade. O fenômeno do consumo compulsivo tem-se revelado um dos tópicos que maior interesse tem despertado na comunidade científica, sobretudo no decorrer das últimas duas décadas. Perante a consciência da relevância que este fenômeno adquire nas sociedades modernas, os investigadores têm procurado estudá-lo de acordo com uma perspectiva holística e integrada, em estreita relação com a complexidade que o mesmo se reveste. (PINTO, 2012)
A prevalência da Compra Compulsiva (CC) é em cerca de 5% da população geral e é identificada com maior frequência no gênero feminino. O comportamento repetitivo e crônico de gastar descontroladamente gera consequências negativas ao indivíduo, além dos elevados índices de comorbidades com transtorno de humor, ansiedade e outros Transtornos de Controle dos Impulsos (TCIs), o que contribui para manter a divergência existente sobre a classificação da CC. (FILOMENSKY, 2011)
Alguns pesquisadores têm considerado a Compra Compulsiva como um transtorno de dependência e o agruparam com os transtornos de uso de álcool e drogas. Outros o consideram como parte do espectro dos transtornos obsessivo-compulsivos, ou do humor. (TAVARES et al, 2008)
No Brasil, as últimas estimativas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, no início dos anos 2000, apontavam que 3% da população sofria do problema, o equivalente a cerca de 6 milhões de pessoas – a maioria, mulheres. Nos Estados Unidos, a incidência varia de 2 a 6%, que equivale a dizer que 6 a 24 milhões de norte-americanos são compradores compulsivos, a maioria mulheres, entre 18 e 35 anos. (SILVA, 2014)
O início do transtorno geralmente se dá em torno dos 18 anos, quando as pessoas começam a ter maior autonomia para comprar de forma independente dos pais, mas a percepção do comportamento de comprar como um problema ocorre mais tarde, em torno dos 30 anos e a busca por tratamento, entre 31 e 39 anos, segundo Filomensky (2011).
Segundo o PRO – AMITI (2004) a compulsão por compras é caracterizada por:
“Preocupação excessiva e perda de controle sobre o ato de comprar; aumento progressivo do volume de compras; tentativas frustradas de reduzir ou controlar as compras; comprar para lidar com a angústia, ou com outra emoção negativa; mentiras para encobrir o descontrole com compras; prejuízos nos âmbitos social, profissional e familiar; problemas financeiros causados por compras.”
É importante lembrar que o diagnóstico não se baseia na quantia de dinheiro gasto nas compras, mas em como o dinheiro é gasto.
As causas exatas que levam ao ato de comprar de forma compulsiva permanecem por definir de modo absolutamente congruente e empiricamente validado. Entretanto, os estudiosos afirmam que as causas estariam ligadas a interação de vários fatores biológicos e sociais: elevados níveis de materialismo, baixa autoestima, supervalorização do ter como forma de melhorar os níveis de felicidade, influências familiares, e não descartam a possibilidade de herança genética.
O tratamento inclui avaliação psiquiátrica, para diagnosticar as questões relacionadas aos problemas (ansiedade/depressão) e psicoterapia, para buscar uma compreensão do que leva a pessoa a comprar demasiadamente e quais os “gatilhos” que levam a esse descontrole.
Referências Bibliográficas:
FILOMENSKY, T. Z. O comprar compulsivo e suas relações com transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno afetivo bipolar. 2011. Disponível em < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-12012012-165404/en.php>
PINTO, H. O consumo compulsivo: perturbação psicopatológica, influências sociais ou compensação do afeto! Oficina do CES, Coimbra, nº 378, 2012. Disponível em <https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/bitstream/10316/32586/1/O%20consumo%20compulsivo_perturba%C3%A7%C3%A3o%20psicopatol%C3%B3gica%2c%20influ%C3%AAncias%20sociais%20ou%20compensa%C3%A7%C3%A3o%20do%20afeto.pdf>
PRO – AMITI. Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso. São Paulo. 2004. Disponível em <http://www.proamiti.com.br/comprascompulsivas>
SILVA, A. B. B. Mentes consumistas: do consumismo à compulsão pelas compras. Rio de Janeiro: Principium, 2014.
TAVARES, H. et al. Compras compulsivas: uma revisão e um relato de caso. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 30, supl. 1, p. S16-S23, May 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000500004&lng=en&nrm=iso>
TAVARES, H. Transtornos do controle do impulso: o retorno da monomania instintiva de Esquirol. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 30, supl. 1, p. S1-S2, May 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000500001&lng=en&nrm=iso>
TAVARES, H, ALARGÃO, G. Psicolatologia da Impulsividade. In: Abreu CN, Tavares H, Cordás TA. Manual clínico dos transtornos do controle dos impulsos. Porto Alegre: Artmed; 2008. P. 19-36.
Formada em Gestão de Recursos Humanos e em Psicologia, especialista em Saúde Mental, atua atendendo adultos na abordagem psicanalítica. Realiza atendimentos on-line e presencial.
No Espaço Camila Ferreira vem atendendo nas duas unidades (Atibaia e Bragança Paulista).
2 Comments
Parabéns pelo artigo, me ajudou
muito, vou compartilhar sempre seu site.
Obrigada pelo comentário. Fico feliz que lhe ajudou e assim poder ajudar mais e mais pessoas.