Por que e para que amar a si?

A ALMA DOS DIFERENTES de Artur da Távola
17 de abril de 2018
Vamos falar sobre psicoterapia?
1 de maio de 2018

Ora, simplesmente para ser feliz, saber e estar pronto para amar o outro!

Parece ser simples, e é! Somos aterrados de sentimentos e desejos que, na maioria das vezes, foram depositados por outros (família, relacionamentos), e não nos damos conta do quão prejudicial isso se torna para nós!

Daremos conta de que nos abandonamos quando surgirem as crises (existenciais, profissionais, afetivas). Elas surgem quase sempre porque nos deixamos ser tomados pelos outros, que nos roubaram de nós mesmos, ainda que tenhamos dado nossa permissão, consciente ou não, para que ocorresse tal sequestro!

Usamos sempre a justificativa: correria! Por que, em algumas vezes, nos disponibilizamos excessivamente para o outro, e nos esquecemos de nós mesmos, realizamos tarefas inteiras para o outro, e, quando se trata de nós, fazemos pela metade? São esses questionamentos que nos colocam a pensar sobre o valor e amor que estamos dando a nós mesmos!

É possível citar situações do dia a dia que apontam claramente para esse abandono que causamos a nós mesmos:

– a necessidade de estarmos sempre presentes na vida do outro;

– o desejo de solucionarmos problemas alheios, dos quais nos apropriamos com ou sem o consentimento do outro;

– o fato de seguirmos e nos atualizarmos com as informações das redes sociais e aplicativos de mensagens apenas para sabermos dos outros;

– a disponibilidade ao chamado dos outros, tendo que conviver com o consequente sentimento de frustração dele, porque julgou que nossa disponibilidade não foi suficiente;

– o ato de depositarmos expectativas no outro ou em situações, o que termina por gerar motivos para nos culparmos, etc.

São exemplos de situações que, vivenciadas todos os dias, nos colocam mais distantes de nós mesmos.

É necessário e preciso um autoquestionamento sobre esses atos! Estamos a realizar em beneficio do outro ou de nós mesmos?

Ao perceber que estamos mergulhados em tantas demandas que são dos outros, chegamos a ficar assustados, já que fomos assaltados dos nossos próprios desejos. Ficaram apenas os desejos e vontades dos outros, vindo aquela sensação do vazio, que tentamos suprir com consumismo (material, bebidas, drogas, relações superficiais). São artifícios que não darão conta de preencher essas lacunas existenciais!

Teremos que nos preencher de nós mesmos! Como? Buscando ajuda profissional, que irá ajudar no resgate do Eu esquecido, o Eu não visto, o Eu roubado, o Eu não amado! Seremos chamados a ressignificar e reestruturar a nova condição do Eu! Perceberemos, então, que não temos que darmos conta de tudo que nos é proposto; poderemos estar e ser presentes na vida do outro de várias formas, mas sempre de acordo com nossas escolhas, e não da maneira que o outro quer. Antes de tudo, urge que estejamos presentes em nós mesmos. Na verdade, por que temos que encontrar solução para tudo, se, muitas vezes, não solucionamos as nossas próprias angústias e falhas?

Em redes sociais somos convocados a assistir o espetáculo do perfeito, dos sorrisos intensos, dos “só os melhores”, da alegria enquadrada. Seremos nós que iremos escolher se tudo isso se tornará incômodo ou não! Sabemos que são fragmentos de felicidades que o outro quer expor, mas nós escolheremos se olharemos como felicidade ou provocação.

Outra situação importante são as frustrações nos relacionamentos afetivos.  Frustrações existem porque houve expectativa, pois a frustração será do tamanho da expectativa depositada. Diante de queixas de que o outro não faz o que quero, não pensa igual a mim, não possui atitudes como as minhas, fica evidente um desejo de apropriação. Se o outro funcionar parecido como quero, ele se tornará vazio na sua autenticidade, pois serão minhas ações e desejos que estarão implicadas nele. Não podemos aniquilar o funcionamento do outro e preenchê-lo com o que é nosso.  Isso se tornaria uma agressão do Eu.

É nosso papel, como profissionais, convocar os pacientes a se apropriarem de si, a se alimentarem de suas própria conquistas (todas serão grandiosas), e a reconhecerem que são responsáveis por sua escolhas, desejos, ações e atitudes. Diante dessas reconstruções surgirá a autovalorização e, por consequência, o amor próprio, não apropriado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *