Repensando o luto

Quando se fala sobre luto, rapidamente esse tema amplo e complexo é relacionado a morte, mas, na verdade, várias situações vivenciadas podem estar correlacionadas ao luto, por exemplo: aposentadoria, envelhecer, mudar de cidade, fim de um relacionamento, perder um amigo, um animal de estimação, às vezes terminar a faculdade, a troca de emprego ou de residência. Toda mudança e até escolha, em geral inclui perda e por isso está ligada a um processo de luto a ser elaborado. Perder algo ou alguém significativo em nossas vidas ou que esteja relacionado ao contexto que vivemos, pode nos impactar de diferentes formas. E, o mais interessante e relevante é o modo como fazemos a gestão desses impactos.

Dessa forma, com o objetivo de trazer um grande elemento para reflexão, podemos pensar no período que estamos vivenciando: o isolamento social e suas consequências. Como você tem lidado com essas a mudanças e perdas significativas na rotina?  Desde questões corriqueiras como ir ao supermercado, usar transporte público, o passeio do final de semana, o trabalho agora desenvolvido home-office e, até mesmo o distanciamento social ou falecimento de pessoas queridas.

Essa situação “momentânea” que interfere diretamente ou indiretamente nos vínculos e no modo que vivemos e vemos o mundo, trazendo uma compreensão sobre a falta de controle e imprevisibilidade sobre as questões básicas do dia a dia. A mudança abrupta devido ao isolamento social e suas consequências, pode acarretar angústia e sentimento de impotência. Portanto, tudo o que se vivência e sente é como se fosse um luto antecipado de possíveis perdas. 

Sendo assim, é importante compreender o que cada pessoa tem sentindo, pode estar envolvido com o processo do luto, que é desenvolvido de modo singular, pois está relacionado a subjetividade e como cada pessoa lida com as perdas. 

Posto isso, deixo uma reflexão: como você tem lidado com seus lutos?

É de extrema importância acolher os sentimentos referentes ao luto, ter um ambiente apropriado para se falar sobre, para que se possa entrar em contato coma dor da perda. O luto é um processo de “ir e vir”. 

Para ilustrar faço uma analogia do processo de luto com as ondas do mar. 

Imagine as ondas naquela cadência a todo instante, indo e vindo. Movimento de ir para areia é como se fosse um momento de firmeza para os pés; o movimento de viver e ir para vida. E quando as ondas retornam ao mar e que traz uma sensação de afogamento, sem sentir algo palpável para o apoio, o contato com o caos do desconhecido e as emoções e sentimentos que surgem. Quando no processo de luto, for possível dar conta de desenvolver atividades e em paralelo apreendendo a olhar para o sofrimento e se permitir cuidar de modo adequada daquela perda o luto pode ser elaborado de modo saudável.

Por fim, ter a compreensão e apreender a internalizar as perdas individuais é importante, dado que, tudo vivenciado te forma como pessoa e o profissional da psicologia pode auxiliar nesse processo que demanda cuidado e harmonia do seu universo interior. 

Adilson Pereira

Psicólogo Clínico com enfoque na abordagem Psicanalítica. Pós graduado em Psicopatologia e dependência química.
Realiza atendimento com dependentes químicos e orientação aos familiares. Atualmente atendendo nas duas unidades do Espaço Camila Ferreira realizando atendimentos com adolescentes e adultos no individual e em grupo.