O QUE ACONTECE QUANDO VOCÊ ABRAÇA SUAS EMOÇÕES DESAGRADÁVEIS

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A Psicóloga Beth Kurland, autora do livro Dancing on the Tightrope: Transcending the Habits of Your Mind & Awakening to Your Fullest Life*(sem tradução para o português) relata que quando tinha 15 anos, a mãe morreu em um acidente de carro. Não sabendo como lidar com a enormidade da perda e dor, se jogou na lição de casa e nas atividades, nunca perdendo um dia de escola e tentando controlar tudo em sua vida.

Essa estratégia teve sucesso em alguns aspectos – conseguiu boas notas, por exemplo. Mas o custo interno de afastar a tristeza apareceu de outras maneiras. Ficou ansiosa em torno de coisas que não conseguia controlar, como mudanças inesperadas de planos e ferimentos leves.

À medida que envelhecia, começou nutrir preocupações irracionais, como medo de expor seu bebê no útero a gases tóxicos ao passar por um cheiro estranho. Foi assim até o nascimento do seu primeiro filho, quando procurou a ajuda de um psicólogo e pôde lamentar completamente a perda da mãe e sentir todas as emoções que passo tantos anos tentando afastar.

O desejo de evitar o que é desagradável (e buscar o que é agradável) faz parte da natureza humana. Mas evitando emoções desagradáveis, em vez de aceitá-las, apenas aumenta nosso sofrimento psicológico, inflexibilidade, ansiedade e depressão, diminuindo nosso bem-estar.

Quando nos voltamos para os nossos desejos, podemos ficar inclinados a se envolver em comportamentos aditivos (compulsão ou obsessão) face a um objeto, substância ou atividade; quando nos voltamos para a nossa dor física, estamos menos propensos a ficar presos em ciclos de dor crônica; quando nos voltamos para nossa tristeza, é menos provável ficarmos presos na depressão, e quando nos voltamos para a nossa ansiedade, estamos menos propensos a ficar paralisados por ela e podemos achar um meio mais fácil de suportar.

Aprender a abraçar as emoções desagradáveis traz, não apenas uma redução significativa da ansiedade, mas uma maior capacidade de experimentar as alegrias da vida mais plenamente e uma crescente confiança em nossa capacidade de lidar com os desafios da vida. Se quisermos viver mais plenamente e sermos os nossos “eus” mais autênticos, precisamos nos voltar para nossa dor, não tentar suprimi-la.

 Mas o que pode nos ajudar a chegar lá? A ajuda de um psicólogo! Profissionais capacitados com técnicas que te ajudam a reconhecer, nomear e enfrentar essas emoções. Existe um conjunto de ferramentas com essa finalidade. Entre elas o mindfulness (atenção plena), autocompaixão e aceitação, que a autora chama de “a porta”, é um exemplo dessas técnicas.

Para fazer essa prática, certifique-se de começar com emoções que não sejam muito intensas. A maneira mais efetiva é trabalhar com um terapeuta qualificado, especialmente para emoções mais intensas. Veja a seguir o que “a porta” envolve.

Passo 1: Desenvolva a vontade de abrir a porta

– Imagine que você está abrindo uma porta e dando boas-vindas as suas emoções e convide-a para vir e se sentar em algum lugar da sala. Você pode imaginar este assento tão perto ou tão longe de você quanto quiser. Dessa perspectiva, você pode dar uma olhada suave e curiosa no que está ali.

Muitas vezes as pessoas imaginam suas emoções como tendo algum tipo de cor ou forma. Às vezes visualizam suas emoções como personagens de desenho animado ou como partes mais jovens de si mesmos. Parte da prática é simplesmente aceitar o que quer que seja.

Esta é uma experiência nova para a maioria das pessoas. Quem querdeixar a ansiedade passar pela porta? Quem queracolher a tristeza ou a raiva? Mas quando deixamos entrar o que quer seja e o vemos de longe, podemos dar uma olhada curiosa e explorar o que está lá.

Passo 2: Dar uma olhada curiosa em qualquer coisa que passe pela porta.

– Observar atentamente o que estamos sentindo pode nos ajudar a lidar com o que está diante de nós. Pode ser útil nomear nossos sentimentos (Ah, isso é doer; isso é ciúme; isso é raiva) porque, por mais simples que isso soe, muitas vezes não prestamos atenção às nuances do que estamos sentindo. Consequentemente, informações importantes se perdem ao longo caminho. Rotular nossas emoções aflitivas nos dá uma maneira de validar nossa experiência interior, o que nos proporciona o benefício adicional de reduzir sua intensidade.

Também pode ser benéfico ver nossos “visitantes” emocionais como convidados temporários. Adicionando a frase “neste momento” a uma declaração como “estou sentindo estresse, raiva ou mágoa” pode nos ajudar a estar com o que está lá sem se sentir sobrecarregado. De outras coisas que você poderia dizer à Você mesmo inclui:

  • Posso me permitir perceber como isso está aparecendo no meu corpo e nos meus pensamentos?
  • Se esse sentimento ou parte de mim pudesse falar, o poderia me dizer?
  • O que pode querer ou precisar?

            Ser curioso, em vez de temerosos ou rejeitar, fornece uma lente melhor para entender seus sentimentos.

Passo 3: Dê a si mesmo o dom da compaixão.

– Além de afastar sentimentos desconfortáveis, muitos de nós foram condicionados a julgar emoções de maneiras negativas. Aprendemos que, se mostramos tristeza, é sinal de fraqueza. Que somos uma pessoa má, se sentimos raiva ou ciúme. Que devemos “seguir em frente” quando experimentamos a perda. Quando nos deparamos com emoções difíceis, muitas vezes dizemos a nós mesmo para parar de sermos bobos ou que há algo errado conosco.

Quando praticamos mindfulness(atenção plena) em combinação com auto bondade e um reconhecimento de nossa humanidade comum (o fato que todos nós sofremos como seres humanos), nós cultivamos autocompaixão, uma qualidade que tem sido ligada ao bem-estar psicológico.

Para praticar a autocompaixão, imagine sentado com um bom amigo, que está sofrendo e pense em como você pode estender um gesto de compaixão. Como seria sua linguagem corporal? Como você o ouviria? Que sensações sentiria ao redor do seu coração?

            Agora imagine essa pessoa estendo a compaixão para você. O que ele poderia dizer ou fazer? Que palavras você acharia reconfortante ou calmantes?

            Entre as possibilidades, poderia dizer: “isso parece muito difícil; estou aqui por você”. Ou talvez poderia simplesmente estender a mão.

Quando podemos aprender a nos sentar conscientemente com nossas próprias emoções e trazer compaixão a tudo o que estamos vivenciando, é como se nos tornássemos esse amigo atencioso, sentados conosco mesmo. Aprender a estar lá por nós mesmos, através dos momentos positivos e dolorosos, pode ser tremendamente curativo.

Enquanto abraçar nossas emoções sombrias e desagradáveis requer coragem e prática, usar a técnica da porta nos permite abrir um presente. Cada vez que praticamos estar com nossas emoções difíceis, desenvolvemos recursos internos, aprendemos a confiar em nossa capacidade de lidar nossas experiências, desenvolver resiliência para superar os desafios da vida e encontrar maneiras de buscar o que realmente importa. Cada um de nós tem o poder de enfrentar o que é difícil, se apenas abrirmos a porta.

*Texto baseado em entrevista: KURLAND, BETH. Dancing on the Tightrope: Transcending the Habits of Your Mind & Awakening to Your Fullest Life. 2018. Well Bridge Book. Greater Good Science Center at the University of California, Berkley. January. 2019. Disponível em: <https://greatergood.berkeley.edu/article/item/ what_happens_when_you_embraem_dark_emotions>. Tradução nossa.

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